O NOJO

Leio. Ouço. Mas não acredito. O Supremo Tribunal de Justiça ordenou a libertação de uma responsável de um lar de crianças com deficiências mentais que havia sido condenada por maus tratos. E no acordão pode ler-se: "Palmadas e estaladas são actos perfeitamente normais, cuja inexistência pode muitas vezes ser vista como negligência". Esta não é a melhor pérola. Pode ler-se também que é aceitável trancar-se uma criança num quarto escuro. É um castigo que deve ser aplicado por um bom pai de família. Como? Importam-se de repetir? Sou eu que estou louco ou o Supremo que está cheio de velhos gagás que já não destinguem um boi de um piriquito? Para quem não sabe, esta senhora de Setúbal costumava amarrar os pés e as mãos a uma criança de sete anos que sofre de perturbações profundas. E como a criança se portava mal ela fechava-a, assim, atada, na dispensa, de luz apagada. Como se de um porco se tratasse. Ora, numa altura em que a sociedade está empenhada em defender os direitos humanos, os direitos dos animais, os direitos puros e simples, o Supremo Tribunal português tem esta decisão. Confesso. Este é um caso em que gostava de fazer justiça pelas próprias mãos. Mas não com a senhora (?) ou verme de Setúbal. Falo dos doutores juízes. E porque acho que há decisões e opiniões que são tomadas com base no desconhecimento, era capaz de integrar um movimento cívico que fizesse aos homens da toga aquilo que eles consideram aceitável para as crianças. Atá-los de pés e mãos e fechá-los num quarto escuro. Alimentados, claro. Mas fechados. Durante uns tempos. Para perceber se mantinham a mesma opinião. Para sentirem na pele as sevícias que muitas crianças sentem porque não têm quem as defenda. Quem fale alto quando é necessário. Não sou uma pessoa violenta. Ou melhor, não me vejo como tal. Mas sinto que actos como este deviam ser castigados. Porque hoje tudo passa impune. Porque olho para a foto de cima, onde vejo os meus filhos a sorrir, e sei que há outros que não têm essa oportunidade. E porque há meia dúzia de filhos da puta, que do alto do seu desconhecimento, da sua arrogância, da sua prepotência ignorante, que em vez de os defender, abrem uma janela jurídica para todos aqueles que maltratam crianças, mesmo que não tenham coragem para sequer olhar de frente uma pessoa do mesmo tamanho. Metem-me nojo.