Ser odiado. É uma das coisas a que ainda não me habituei muito bem. E algo a que só tomei verdadeiramente atenção após a transição da vida escolar para o mundo do trabalho. Antes passava-me completamente ao lado.
É óbvio que desde a primária à universidade temos os nossos ódios de estimação. Mas eles não são profundos, poucas vezes tinham verdadeira razão de ser. E retiro daqui, claro, quem odeia alguém devido a maus-tratos físicos ou psíquicos. Falo apenas daqueles ódios aos gajos que cobiçavam as mesmas moçoilas que nós ou que pareciam um pouco mais fortes, um pouco mais belos, essas parvoíces assim. Mas o mais engraçado hoje é ser odiado por quem não me conhece. Sei que escrevo coisas pouco simpáticas e tomo posições pouco habituais nas colunas de opinião. E que elas prejudicam a vida de certas pessoas. Percebo o ódio deles. Mas há outros que me custa a perceber.
Confesso que não perco muito tempo com isto. Mas o facto de receber ameaças e de saber que A, B e C dizem mal de mim por aqui e por ali não deixa de me irritar. Tem dias. As ameaças incomodam pouco. São feitas por energúmenos sem coragem e sem cara. Nunca irei reger a minha vida pelo medo, subserviência ou com receio seja do que for. O que me incomoda é saber que algumas pessoas, que até têm estudos e parecem ter dois dedos de testa, acabam por ser iguais ao mais banal dos corrécios, a quem dizer mal basta, sem substância para mais.
Porque há algo que os meus amigos sabem e muitos outros também. Posso ser baldas, desorganizado, demasiado envolvido, mulherengo, gostar de noites, copos e adrenalina. Mas se há coisa de que tenho a perfeita noção -- porque sei de onde bebi e o que aprendi com os meus pais – é que não sou filho da puta. Mais. Sei o que quer dizer a palavra solidariedade. Muito bem. E sei que amo a minha mulher e os meus filhos. Quem são os meus melhores amigos. Que os KD estão já no fundo do coração. E que faço demasiadas coisas para o tempo que tenho. Sei o que vale a pena na vida. E com os outros não posso perder tempo. Foram hoje enterrados. Aqui e agora. Volto a lembrar o catalão Pi de la Serra: "Se os filhos da puta voassem, nunca mais se veria o sol".
PS – Este post é apenas um desabafo. Não é para levar a sério. Não merece comentários.