sexta-feira, março 24, 2006

Amo-te. Hoje e sempre

Já dizia o cantor catalão Pi de la Serra, Se os filhos da puta voassem nunca mais se veria o Sol. Nunca me esquecerei desta frase. Nem de estar às cavalitas dele, lá colocado pelo Zeca Afonso. Os meus pais por perto e, claro, a Natércia. É curioso. Tinha decidido escrever hoje um post a propósito da eliminação do Sporting e de como isso me tinha deixado furioso. De como considerava isso injusto. Que estava farto do futebol português e essas trivialidades todas. Não há nada como uma tragédia para nos colocar as coisas em perspectiva. Estava no jornal quando recebi o telefonema. O meu pai de voz embargada. Estás bem? Tenho uma coisa muito má para te dizer. A Natércia morreu. Como? A Natércia morreu.
Com ela morre uma parte de mim. Trata-se da melhor amiga dos meus pais, minha avó, amiga, a bisa Natas para o Tomás e o Vicente. Foi com ela que aprendi a ver teatro. Foi com ela que percebi o que era ser amigo sem condições entre adultos. Nunca esquecerei o Natal que passei na Ortiga, longe da família, porque o meu pai estava às portas da morte e ninguém sabia o que fazer comigo. Foi ela que me salvou. Foi com ela que ganhei um pouco de cultura. Foi com ela que conheci a Ortiga, Mação, Abrantes, o avô Pires, a barragem, foda-se, como é possível ela ter partido e eu não ter feito nada.
Nunca me repreendeu. Sempre apostou em mim. Confiou. Deu força. Desde a loucura da música ao casamento. Vai em frente, dizia, sempre com um sorriso nos lábios e um miminho escondido na carteira. Passámos juntos Natais, passagens de ano, férias e fins-de-semana. Dias de sol, chuva, na piscina e de lareira acesa. E como os meus pais devem estar a sofrer. E o João Brites, o pessoal do Bando, o que vai ser do Gonçalo, a eterna criança grande que ela tanto estimava.
A Natércia esteve presa. A política tem destas coisas. Sempre que a íamos ver esperava-nos como se ela estivesse cá fora e nós lá dentro. Era ela que nos animava, que nos dava conselhos, que levantava o astral aos que disso precisavam. Mas esteve lá muito tempo. E quando voltou fê-lo com energia redobrada. O Bando deve-lhe muito. O teatro português também. E eu. E o Rui Pedro. Sinto-lhe a falta.
Nos últimos anos afastamo-nos. Por causa dos putos, do trabalho, do Bando ter passado para Palmela, mas principalmente do meu comodismo para a ir ver. A última vez que estivemos juntos foi nos anos do meu irmão. 10 de Março. Ele e a namorada, os meus pais, eu, a Sara e os putos e ela, claro. Porque ela era da família. Porque ela é da família. E como eu lamento não lhe ter dito que ela é tão especial para mim. Sei que já é tarde, tesha, mas aproveito para te dizer. Gosto muito de ti. Mesmo. Até logo.
B

6 comentários:

dmonge disse...

As minhas Condolências
amigo, sei bem o que é a dor de perder um antequerido. Se precisares estarei cá...

Meideprak disse...

Que se lixe a bola. Mt força e coragem, não é fácil, nunca é.
Aquele abraço e até amanhã camarada

PInacio disse...

Nada te digo, tudo te escuto...
Quando, onde e o que precisares!!!

Eskimo disse...

Obrigados amigos. Sei que posso contar com vocês. Granda banda esta.

james disse...

Amo estar ao teu lado quando a alegria brilha nos teu olhos...mas tambem estou ao teu lado nesta enorme tristeza que sentes dentro do teu coração...mas acredita numa coisa amigo ,a Tesha não morreu... asua alma estará sempre presente dentro de tí ,com aquele sorriso nos lábios para te dar sempre que pensares nela.

mariano disse...

Um dos mais dificeis comentários nos últimos tempos, contorcem-se os dedos e retorcem-se as unhas, sobe o peito à garganta...

Não precisamos de dizer às pessoas que amamos, que as amamos. Elas apercebem-se disso mesmo, por um gesto, por um sorriso, por um olhar, por um abraço, por um diálogo... Especialmente os mais velhos que têm sempre algo a ensinar, é o calo da vida.
Assim foi comigo quando perdi a mulher mais importante da minha vida.
Aquele, abraço.

The manager.