No CD vai passando "The mercy seat", de Nick Cave, enquanto começo a escrever estas linhas. A versão acústica do "b-sides & rarities". Gosto tanto quando isto me acontece. Quando um concerto memorável me faz redescobrir a obra de um génio de quem sempre gostei mas de quem andava afastado.
Nos últimos dias tenho ouvido essencialmente os discos mais recentes de Cave. Para saborear. Algo que não fiz antes. Estupidamente. Fui comprando e pondo para o lado. O que eu perdi. Porque o best of, o "Boatman's Call" ou o "Murder Ballads" são companheiros de estrada e aventuras mais ou menos constantes. Mas a verdade é que este gajo, completamente louco, é genial. E assim todos os trabalhos dele merecem visita mais atenta. O "B-sides", que continua a rodar ali na sala, é um bom exemplo. O volume I é óptimo. Demasiado bom para ser verdadeiro.
Ainda não falei do concerto. Não há muito para dizer. Cave tocou para um público que não o mereceu. Que queria apenas as baladas e as músicas mais conhecidas e ele deu-nos uma tempestade sónica e visceral como há muito não via. Brutal em todos os aspectos, até na desorganização dos Bad Seeds, que não sabiam muito bem o que tocar após o primeiro encore. Foram, diga-se, duas horas e 20 minutos de concerto. Entre o rasganço e a acalmia de "Into My arms", numa versão cabaret apaixonante. Na utilização do seu instrumento, aquela voz poderosa constantemente no fio da navalha entre o desafinanço e o génio, Cave pareceu esquecer-se que no dia seguinte havia outro concerto para dar no Porto. Uma entrega para lá do compreensível. Uma banda fantástica, até nos enganos. Gostei. Mas gostei mesmo. Não há muitas noites de arte assim numa vida. Há que saber valorizá-las.
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