ANDO constantemente a ouvir o novo álbum dos Bauhaus - "Go away white" - e ainda não consigo ter opinião. Acabei de o meter numa capinha para o PI e estava a pensar o que lhe dizer do disco. Muito pouco, pois ele não precisa. Tem essa grande vantagem, de ser um gajo que pensa pela sua própria cabeça. Mas ainda assim, na base da discussão musical, das que mais gosto de ter com ele, sinto-me ainda curiosamente muito inseguro quanto a este trabalho. Não por não ter qualidade, não é disso que se trata. Mas como se encara um cd de uma banda que já acabou e que se meteu 18 dias num estúdio, gravou as músicas fechada numa sala e depois os músicos gravaram as suas partes todas ao primeiro take? Obviamente, a primeira conclusão é que este não é um trabalho tecnicamente perfeito. Trim. Errado. É-o. Muito bom mesmo.
Bem, inclino-me para o facto de os Bauhaus serem uma banda especial. Uma banda que está na galeria dos génios e que não faz música para consumo imediato. E a verdade é que já ando com o cd há muito tempo a tocar e não só ainda não me fartei dele como não consigo transmitir o que me faz sentir. E sim, isso é, de facto, o que mais me intriga. Os Bauhaus conseguem colocar-me a adorá-los, irritam-me, puxam-me para cima e para baixo. Em suma, numa só palavra, acho o disco... genial.
Mas não. Ou seja... é um disco fodido de ouvir. Porque sentes que há músicas que se fossem um pouco mais trabalhadas seriam divinais. Assim são apenas muito, muito boas. Mas está lá a centelha. A centelha de génio que só reconheço a algumas bandas. Estes senhores têm-na. Há pormenores na voz do Peter Murphy, na guitarra do Daniel Ash, no baixo do David J e na bateria do Kevin Haskins que deliciam qualquer gajo que toque e cuja sua influência primária seja o pós-punk dos anos-80. Este disco, bom ou mau, fará as vossas delícias.
No fundo, uma espécie de "back to basics" muito apreciável. A par do disco dos The Gossip e do último dos Unkle, este "Go away white" é uma das melhores coisas que já me deram nos últimos tempos. Nos antípodas dos dois discos anteriores, mas com uma frescura/bafio que me deixam desarmado. Vou ali ouvi-lo outra vez...
PS: Vou repetir-me: Ouçam bem os dois últimos discos de Gossip e Unkle. São tão diferentes quanto maravilhosos. Nos primeiros um baixo e bateria ritmados para uma voz fantástica e uma mão cheia de canções cool de nos deixar uma tarde a ouvir sempre a mesma coisa. Nos segundos, a tecnologia ao serviço do rock. As vozes e as composições dos Unkle não podem deixar ninguém indiferente. Pode não se gostar. Indiferente? Não acredito.
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