sábado, novembro 10, 2007

COM TODAS AS TUAS FORÇAS

SABES aqueles dias em que te sentes capaz de tudo menos do que tens de fazer? Pois, é isso. Há dias assim. Dias em que a tua mente vagueia por ali. Dizes que sim aos putos, ris-te do que eles dizem e do que eles fazem mas não estás mesmo lá. E porquê? Não sabes. Não sabes ou não queres dizer? Não, infelizmente não sabes mesmo. Isso incomoda-te? Não, nem por isso. Ou melhor, já incomodou mais. Já foi uma peça nuclear na tua personalidade. Hoje não pensas muito nisso.

O refúgio é quase sempre o mesmo. A música. E aqui não se trata de bandas, destes ou daqueles, travestidos de góticos, metaleiros ou surfistas. A música simplesmente. Algo que te provoca sensações tão diversas e inquietantes como a melhor das fodas. Ou de mais tocante das tristezas. Corres o risco de ser acusado de mariquinhas. Ou de ser de Alhandra voltar à baila. Mas é a mais pura das verdades. Os sons ouvidos pela noite dentro, na escuridão da sala ou no esconderijo dos headphones. Mas também ao acordar, quando o volume que sai das colunas faz tremer as paredes e impossibilita os vizinhos de te dizerem que o prédio está a arder. São muitas as músicas que fazem parte do teu percurso. São muitas as músicas com quem tens histórias. De amor, de gritos, de sexo ou de rebelião. Mesmo que surda.

O facto de tocares é apenas uma extensão da factura que pagas por essa ser a única arte que adoras. Sim, gostas de cinema, teatro, artes plásticas ou circenses. Mas não há nada que te faça galgar paredes, percorrer quilómetros, perder anos de vida e tanto dinheiro como a maldita música. Aquela para que não encontras explicação. Quem te é mais próximo vai percebendo. Sempre disseste que preferias uma hora de bateria do que uma hora de sexo. Ainda hoje é verdade. E essas serão mesmo as duas coisas que mais gostas de fazer na vida. Ou não. Pensas bem e não é verdade. Pensas bem e lembraste de momentos em que também deixaste de comer amigas, conhecidas, malucas ou nem por isso apenas que querias ouvir aquele disco novo que acabaras de comprar. Sim. Aconteceu. Demasiadas vezes para hoje não te lembrares.

Sabes que aquela que escolheste já entendeu o que sentes. Foram muitos anos de sofrimento, talvez. Sabes que nunca explicaste como deve ser. E que ela ficou muitas vezes para trás. Ela. Os putos. A família. O trabalho. As responsabilidades a que te furtaste para sentires aqueles arrepios. Os arrepios que só o primeiro beijo, o cabelo loiro ou as zangas com ela te fazem sentir. Curiosamente, quando ela se zanga contigo sentes algo parecido. Será masoquismo? Não. Demoraste a perceber mas chegaste lá. É amor.

É amor o que sentes. Pela música. E por ela. São quem te faz vibrar. Quem te dá tesão a qualquer hora. Quem te dá força para continuar. Ouvias em pequeno o Sérgio Godinho cantar, “Que força é essa, amigo, que te põe de bem com outros e de mal contigo”. Hoje sabes qual é. A mesma da Juja. É amor.

3 comentários:

Anónimo disse...

Lindo! És mesmo bom a falar de emoções. Ou talvez seja a surpresa de seres homem e o fazeres tão bem.
Não sei. Só sei que me emociona ler estes teus textos.

Fx

Anónimo disse...

É amor...do PURO!

Anónimo disse...

Lindo. Isto é de homem com H grande.

Um beijo!

Kermit