segunda-feira, março 26, 2007

TRISTES DIAS DE NOJO


EDUCAÇÃO. Apesar de considerar o concurso "Os maiores portugueses" uma verdadeira imbecilidade, não consigo brincar com o resultado final, que deu uma vitória expressiva ao ditador, Salazar.
Sabendo de antemão que não se passou ali nada mais do que uma luta entre duas claques – a extrema-direita e os comunistas – os resultados finais do concurso não deixam de me envergonhar como português.
É óbvio que os resultados foram obtidos através de campanhas orquestradas. E como melhor organizada e mais endinheirada que é, a direita triunfou. Não é isso que me incomoda. Ou enoja. São factores distintos. O primeiro a mensagem que passamos aos mais novos. Que tudo é permitido para triunfar e mantermo-nos no poder. Torturar, assassinar, oprimir, silenciar, exilar, entre tantos outros verbos que custam tanto a escrever como a cuspir. Mas foi isso que dissemos aos mais novos. Aos que nos seguem. O maior português de todos os tempos foi um aliado de Hitler, que à sua pequena escala fez os crimezinhos a que tinha direito para se manter 40 anos no poder.
Eleger Salazar é o triunfo da barbárie sobre o respeito pela vida humana. E o mais triste é que a maior parte das pessoas lerá isto e considera-o um exagero. Infelizmente não é. Salazar mandou torturar. Mandou matar. Mandou violar. Mandou electrocutar. Mandou exilar centenas de pessoas para o Tarrafal, onde se vivia em condições abaixo do miserável. Patrocinou uma polícia política capaz de tudo para impedir, mais do que a liberdade de expressão, mais do que a liberdade de pensamento, toda e qualquer actividade que pudesse prejudicar a sua liderança. É este o maior português de sempre?
A escolha equivale aos alemães escolherem Adolf Hitler, os italianos Mussolini, os americanos um atrasado mental como George W. Bush ou Ronald Reagan. Mas pior. Mais pequeno. Mais insignificante. De vistas curtas. Culturalmente fraco. Cuja única táctica foi fechar Portugal dentro de quatro paredes para tentar que nada acontecesse, uma vez mais, ao seu poder caduco e retrógrado.
Infelizmente, ver Álvaro Cunhal no segundo lugar não me anima muito. Antes pelo contrário. Ainda bem que o Tomás e o Vicente não ligaram nenhuma ao facto. Ia ter dificuldades para lhes explicar isto. Muitas. Porque há coisas que nos metem nojo e nos toldam a língua e o pensamento. Salazar, os seus crimes e a sua pequenez é uma delas.

A escolha de Salazar mostra também um dos grandes falhanços da democracia pós-25 de Abril. A educação. Não bastavam os milhares de portugueses que não sabem escrever, ler ou até falar, deparamos com a ineficácia total na explicação do que é a nossa história e de que material somos feitos. Ou não. Há demasiados portugueses que não percebem, já se esqueceram ou ignoram o cancro que foi o ditador para a história do país. E isso, infelizmente, deve envergonhar todos os que, de uma forma ou de outra, contribuiram para a democracia que hoje vivemos.
NA FOTO: O campo de concentração do Tarrafal, uma das grandes obras patrocinadas e das mais utilizadas pelo maior português de sempre

3 comentários:

Anónimo disse...

tristeza e vergonha.

Anónimo disse...

realmente...

Anónimo disse...

Já dizia alguém que tu conheces, se os filhos da puta voassem não se via o sol. Está patente na Torre do Tombo uma exposição sobre as ditaduras portuguesa e espanhola e um dos cancros expostos é o Tarrafal. Vale a pena passar por lá.

Mariano.